segunda-feira, 27 de julho de 2009

Amor verdadeiro

Ao término da partida entre Flamengo e Santos, uma cena completamente incomum chamou a atenção de quem assistia ao jogo pela televisão. O técnico interino do Flamengo, Andrade, se emocionou com a vitória por 2x1 e não conseguiu conter as lágrimas diante do repórter Eric Faria da TV Globo. Quem não conhece Andrade poderia até pensar que é ridículo um técnico de um time com tamanha expressão se emocionar após conquistar somente mais três pontos na classificação do Campeonato Brasileiro. Mas para quem conhece e sabe da importância de Andrade pro clube carioca, achou muito interessante e talvez até se emocionou junto com ele. A situação me fez refletir: Eu não vi Andrade e o time mágico da década de 1980 do Flamengo jogar e, mesmo assim, aqueles são meus ídolos e ídolos de toda uma geração órfã de grandes jogadores que expressem amor verdadeiro ao clube. Até quando eles serão os únicos ídolos da torcida rubro-negra? Será que em 2050 eu ainda vou lamentar não ter visto Zico e cia jogarem? Será que até lá não vai surgir um outro ídolo que jogue por amor e chore pelo time de coração? Será que tudo isso é pedir demais?
Isso não se trata de lamentações de um torcedor frustrado com o que viu em 19 anos de vida, se trata da realidade. Hoje quem beija o escudo de um time não sabe nem um pouco da história que aquele emblema representa. Como não se esquecer do capetinha Edílson, que em 2003, durante um treinamento na Gávea, discutiu o com o então diretor técnico Júnior, ex-jogador e grande ídolo do rubro-negro. Na discussão Edílson afirmava que tinha uma Copa do Mundo no currículo e Júnior não, e que, por isso, ele tinha que ser respeitado no clube. Acho que o Edílson não sabia com quem estava falando e o quão importante era a camisa que ele defendia no momento. Tantas frustrações que fazem com que os ídolos do passado continuem intocáveis e únicos na galeria de deuses do clube mais querido do Brasil. E não se trata apenas do Flamengo. Nilton Santos e Garrincha continuam únicos no Botafogo, Pelé no Santos, Roberto Dinamite no Vasco, entre outros. Não surgiu ninguém que suprisse ou pelo menos tentasse se igualar a esses jogadores no coração do torcedor contemporâneo. E a tendência é que esses grandes ídolos não surjam mais. Sem entrar no mérito da parte técnica, só apenas no amor à camisa de cada clube brasileiro.
O choro de Andrade revela que o amor ainda existe. Mas existe de quem nós não duvidamos, existe por parte de quem deu a vida pelo clube. O ex volante jogou pelo Vasco e por lá foi campeão brasileiro em 1989 e, ainda assim, é respeitado e é ídolo incontestável do Flamengo. Adquiriu esse respeito ao longo da carreira. Ao longo de 4 títulos brasileiros, 1 Libertadores e 1 Mundial. Ao longo de anos de dedicação à comissão técnica do Flamengo. Ao longo de vivências, histórias e emoções no clube. Dedicou a vitória ao amigo e também ídolo, o ex-goleiro Zé Carlos, que morreu essa semana de câncer. Se emocionou como um menino que entrava em campo pela primeira vez, chorou porque sabe da importância do Flamengo, sabe o que é o Flamengo e o que ele representa. Chorou porque ama o clube. Chorou porque também é um de nós. Chorou porque também faz parte da nação.
Se no futuro eu poderei ver mais alguém emocionado e demonstrando amor verdadeiro a um clube no Brasil, eu não sei. Acho difícil. Mas que fique a esperança de que novos Andrades surjam, de que novos ídolos ocupem o mesmo lugar no coração do torcedor e de que o amor verdadeiro ainda exista no futebol.

3 comentários:

  1. Belo Texto. Amor a camisa hoje em dia é realmente difícil. É um tal de 'beija o escudo hoje e amanhã esquece de todas as oportunidades que lhe foram dadas pra criticar', né Andrezinho? Um grande problema é o de que cada vez mais as grandes revelações saem cedo do país, muitas vezes sem sequer ter jogado no time profissional do clube que o revela. A grande disparidade financeira dos clubes brasileiros e dos europeus também dificulta muito. Mas é isso aí, maldito capitalismo!
    Valeu Andrade!
    Descanse em paz, Zé Carlos.
    SRN

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  2. Parabéns, escreve muito bem. Infelizmente escreve sobre uma eterna maldição sua. Mas um dia você se converte e aprende a torcer por algum time de verdade.

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  3. O Fluminense tem ídolos contemporâneos. Inclusive um está de volta!

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